23-09-2010 17:18

Respire e fale: Professora de fonoaudiologia dá dicas para os profissionais que usam a voz

O curso de graduação em Fonoaudiologia da USP de Bauru, considerado um dos melhores cursos do país segundo o Guia do Estudante da Editora Abril, está realizando a Oficina do Som nos dias 14 e 28 deste mês para os alunos de Jornalismo da Unesp. O evento é um projeto das alunas do 4º ano do curso e coordenado pela Prof. Dra. Lídia Cristina da Silva Teles.

A professora possui experiência na área, com ênfase em voz profissional, expressividade e locução. Segundo Teles, os profissionais que usam a voz devem manter a saúde vocal para ter um bom desempenho no trabalho e uma vida mais saudável.

 

Como surgiu a ideia de montar essa oficina?

A ideia surgiu pra gente trabalhar com os alunos da Unesp que fazem Jornalismo e Rádio e TV, devido a necessidade que eles têm de fazer um treino mais específico de locução, que não consta nos cursos. A gente vem trabalhando com o pessoal da Unesp já há alguns anos, em vários formatos. Inicialmente a gente fazia atendimentos individuais e nos últimos dois anos, a gente tem trabalhado no formato de oficina, para contemplar também outras profissões. Essa oficina acontece dentro do currículo de Fonoaudiologia. São as alunas do quarto ano, que dentro da disciplina Voz Profissional, se preparam para ajudar e orientar os profissionais que usam a voz.

 

Qual é o trabalho do fonoaudiólogo?

Uma das áreas da Fonoaudiologia é exatamente essa de preparação vocal, de aprimoramento, de prevenção, de cuidado com a saúde vocal. Mas a Fonoaudiologia trabalha com várias áreas, a audição, a linguagem, e trabalha com várias idades, desde bebês até velinhos e em vários locais, como hospitais e escolas.

 

As pessoas procuram o fonoaudiólogo?

Essa procura tem sido crescente nos últimos dez anos. Antes, essa procura acontecia apenas quando a coisa já deu errado: “minha voz não sai, não falo mais, não sei o que fazer”. O uso inadequado da voz proporciona alterações, então a gente precisa aprender a usar melhor, para prevenir. Atualmente, tem sido crescente o número de profissionais que nos procuram para melhorar sua performance, ganhar projeção, ganhar credibilidade na fala. Os exercícios de respiração, o aquecimento da voz, que vimos durante a oficina não só ajudam a melhorar como também a preservar a saúde vocal. Porque quando uma pessoa fala usando  aparato vocal dela da melhor forma possível, ela não só se sai bem na comunicação, como ela usa menos esforço. Então ela pode ser um bom profissional não só por cinco anos, mas muito mais.

 

Você falou que aumentou a procura, mas ainda existem pessoas que só procuram o fonoaudiólogo depois que descobrem um problema. Por que as pessoas desconhecem os cuidados com a voz?

Uma das coisas que a gente entende é que a fonoaudiologia é uma profissão muito jovem, considerando a medicina, a odontologia, que existem há muitos anos. Além disso, infelizmente, é um aspecto cultural: a nossa cultura não aprendeu ainda a cuidar da própria saúde. Nós nos alimentamos mal, dormimos mal, não fazemos práticas esportivas, apesar de sabermos que tudo isso é necessário. Então por que a gente não cuida?

 

E para as pessoas, como jornalistas, que trabalham muito com a voz, quais as indicações mais básicas que você daria?

O importante, primeiro, é conhecer a si próprio. É fundamental ter muito domínio do próprio corpo. Se eu estou fazendo força, em que momento eu estou usando minha voz de forma mais suave ou mais tensa, o quanto eu grito, quais são as atividades de fala que eu uso e quais delas poderiam ser prejudiciais. Eu conhecendo aquilo que faz bem ou mal, apreendo e mudo meu comportamento. Conhecer os cuidados básicos e aplica-los. Depois, além desses cuidados de higiene vocal e de saúde vocal, alguns exercícios que você faz antes do uso da voz profissional que a gente chama de exercícios de aquecimento vocal. Durante 15 minutos você prepara seu corpo, sua mente, sua laringe pra entrar em cena. Se você entra a frio é uma coisa, se você entra se preparando, o desgaste vocal é muito menor.

 

É importante que as pessoas em geral tentem falar de uma forma correta?

É claro. Você vai para uma entrevista de emprego, você consegue um cargo de liderança, se você se comunica bem, claro que você consegue muito mais coisas. Umas das grandes dificuldades hoje é a dificuldade de comunicação, é você falar, ser entendido, saber ouvir, saber se colocar sem parecer arrogante, saber mostrar sua idéia, saber compartilhar aquilo que você tem e receber as informações, trabalhar em grupo. O aspecto da informação envolve muito mais do que só uma boa voz. É a forma de como a personalidade de uma pessoa se apresenta. Quando você tem esse domínio, você se coloca muito bem em qualquer lugar. Para se colocar no mercado de trabalho, quem fala melhor, se sai melhor.

 

Quais são as expectativas para a Oficina?

Eu acho que vai ser bom. Eu não tenho a expectativa de que depois da Oficina, saia todo mundo com boa locução. Porque é um tempo muito pouco e isso é um processo de consciência. É uma enxurrada de informações e aos pouquinhos vocês vão tendo mais consciência e contato com elas. O que a gente sabe que pode acontecer: que vocês sabem que existe a fonoaudiologia para te ajudar. Se não guardar nada da oficina, quando estiver precisando, batam na porta de um fonoaudiólogo: “Você tem informação em voz? Você pode me ajudar?”. Saber onde buscar recurso já que a grande maioria da população não sabe.

 

Por Daniela Chiba e Regiane Folter

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